Vorazes predadores frágeis

   Sempre foi de praxe observar a natureza e suas peculiaridades. Em verdade, não há como não fazê-lo. Um meio para tanto era brincar com os mantídeos que apareciam na acerola da casa de meu pai. Insetos esses, denominados popularmente de “cavalinho-de-deus” ou “louva-a-deus”. Aparentemente, por mais que eles fossem verdes e se camuflassem na pequena selva, de meus olhos não fugiam, nem mesmo os milimétricos. Sorte a deles que não sou predadora, ainda que não seja um fato comemorativo; não significava nada para sua segurança. Tanto, que um deles, quase uma formiga de tão pequeno, perambulava em meu braço esquerdo. Mal passava em seus pensamentos que aquele macio chão fosse se mexer e jogá-lo longe. A queda em si não lhe faz mal, mas algo formigamente pequeno é praticamente invisível aos olhos titânicos. Como um titan que não mata nem uma barata – em verdade não mato nada, hipocrisia; corro de medo – procuro no cair da noite, toda afoita, aquele pequeno ser, capaz de iluminar meu dia. A salvo, recoloco-o nas escuras folhas de acerola a fim de que ele percebesse que voltava a casa. Fiquei feliz, havia salvo uma criatura inocente, pura dos pecados do nosso mundo. A natureza é verdadeiramente linda; regozijante. E em um movimento rápido e sorrateiro, um monstro três ou quatro vezes maior o dilacera, satisfazendo suas necessidades alimentícias. Um frágil ato de canibalismo. Um monstro formigamente pequeno.

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